Cidades

Entrada do aplicativo ‘99’ divide opiniões e mexe com o transporte urbano local

07/05/2025
Entrada do aplicativo ‘99’ divide opiniões e mexe com o transporte urbano local

Com cerca de 73 mil habitantes, a cidade sertaneja de Palmeira dos Índios vive uma nova realidade na mobilidade urbana. Desde que o aplicativo 99 passou a operar no município, o serviço de transporte por mototáxi entrou no centro de uma disputa marcada por preços, segurança, tecnologia e legislação. A chegada da plataforma tem gerado reações divididas entre os profissionais do setor e os usuários, abrindo um debate que coloca em xeque o modelo tradicional de transporte individual sobre duas rodas.

O preço: atrativo ou ameaça?


Atualmente, uma corrida pelo aplicativo 99, que inclui também a modalidade 99Moto, custa, em média, R$ 4,90. Já os mototaxistas convencionais mantêm a tarifa em R$ 7, valor que, segundo eles, cobre despesas com manutenção, combustível e taxas municipais. A diferença de pouco mais de R$ 2 tem sido suficiente para atrair grande parte da população, especialmente jovens e trabalhadores informais, que veem na economia um benefício direto.

Por outro lado, para os profissionais do mototáxi que não aderiram ao aplicativo, a concorrência é considerada desleal. “Nós temos alvará, seguimos as regras da prefeitura, pagamos nossas taxas. Agora chega um aplicativo de fora, com cadastro pelo celular, sem fiscalização, e derruba o nosso trabalho?”, questiona um mototaxista que preferiu não se identificar.

A adesão silenciosa: mototaxistas que migraram para o app


Apesar da resistência de parte da categoria, há quem veja na tecnologia uma oportunidade de ampliar os ganhos. Alguns mototaxistas regulares passaram a trabalhar também pelo aplicativo 99. Sem abrir mão do ponto fixo, eles mantêm o telefone à disposição das chamadas digitais. “Não tem como lutar contra a tecnologia. Se o cliente quer comodidade e segurança, a gente precisa se adaptar ou vai ficar para trás”, afirma um profissional que hoje divide o tempo entre a praça de mototáxi e as corridas por aplicativo.

Segurança e rastreabilidade: um trunfo do aplicativo


Um dos argumentos mais citados pelos defensores do aplicativo é a segurança. Ao contrário do serviço convencional, o app oferece ao usuário informações como nome, foto, placa do veículo e rotas em tempo real compartilhadas com contatos de confiança. Em uma cidade onde o transporte informal cresceu sem controle e onde são frequentes denúncias de motoristas clandestinos, a rastreabilidade fornecida pela plataforma é apontada como um diferencial crucial.

“O aplicativo permite que minha filha, quando pega uma moto, compartilhe a corrida comigo em tempo real. Isso é tranquilidade. Não tem como comparar com um mototáxi da rua que a gente mal conhece”, comenta a dona de casa Maria Eliane, moradora do bairro Vila Maria.

A Lei de Mobilidade Urbana e o desafio da regulamentação


A Lei Federal nº 12.587/2012, que institui a Política Nacional de Mobilidade Urbana, prevê que os municípios regulamentem e fiscalizem os serviços de transporte individual de passageiros, inclusive os realizados por aplicativos. Em Palmeira dos Índios, a entrada da 99 escancara uma lacuna: até o momento, não há uma regulamentação municipal clara para o transporte por aplicativo de moto. A Prefeitura, por meio da Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT), ainda não se manifestou oficialmente sobre a legalidade da operação do 99 na cidade.

Na ausência de uma regulamentação específica, o impasse se intensifica. De um lado, os mototaxistas que operam sob concessão pública cobram fiscalização e proteção da prefeitura. De outro, usuários e motoristas adeptos da 99 alegam que a livre concorrência deve prevalecer — desde que respeitados critérios mínimos de segurança e qualidade.

Impacto a médio prazo


O futuro do transporte individual em Palmeira dos Índios está sendo moldado em tempo real. Enquanto a adesão ao aplicativo cresce entre usuários e até mesmo entre os próprios mototaxistas, a cidade ainda precisa decidir como vai conciliar inovação tecnológica com justiça social, proteção ao trabalhador e segurança viária.

O que está claro, até agora, é que a mobilidade em Palmeira dos Índios não será mais a mesma. A chegada da 99 virou a chave de um novo ciclo — mais digital, mais barato, mas também mais desafiador em termos de regulação e equilíbrio de mercado.